Texto: Marcos Galinari
Meu espelho disse que preciso perder cinco quilos. Comecei ontem. Às sete da manhã, para ser mais exata.É automático. Você levanta, toma banho, se troca e já vai logo abrindo a geladeira.Eu falei êpaa! Pára com isso já! Fecha essa boca monstra. E começava alí o meu martírio, quero dizer... regime.E olha que não era nem segunda-feira. Comecei na quarta mesmo, meio da semana. Uma coisa meio auto-punição depois que eu me vi bela e refletida naquele bendito espelho. Mais refletida do que bela na verdade.Deixa pra lá. O importante é... estou empolgadíssima! Torradinha no café da manhã... Magina! Pode tanta coisa. Duas torradinhas. Duas. É o máximo. Água também pode, a vontade. No trabalho, na hora do almoço eu... É, eu almoço no refeitório da empresa. Todo mundo alí, reunido. Não, tem gente que faz de propósito, só pode. Aquela magrela do departamento pessoal. Cafona, horrorosa e fingida. Não sei como não enfarta de tanto comer. E eu lá né, firme. Mastigando a minha alface. Na parte da tarde, só tomei chá. Chá também pode. A vontade. E a noite chegou. Uma sopinha leve, rala, bem rala aliás. Muito rala. Horrível, praticamente água pura a infeliz. Eu disse água? Quase não saio mais do banheiro de tanto tomar água. Hoje é o segundo dia do regime, quatro da tarde. Contados ali ó, todas as horinhas do dia. Ainda estou viva. Agora a pouco eu encontrei sem querer, bem por acidente mesmo, uma barra de chocolade na minha bolsa. Na hora eu me lembrei do espelho. Que se dane o espelho.
3 comentários:
Olá Marcos,
Sou atriz e entrei no seu blog por um acaso e acabei lendo o texto do "Regime". Na mesma hora comecei a ler interpretando já imaginando fazer esse monólogo em um próximo teste.
Parabéns, você além de escrever bem consegue em uma linguagem simples e com um certo tom cômico fazer com que as pessoas se vejam nessa situação.
Um abraço
Daniela Reis
Concordo com a Daniela.
Esse texto é delicioso.
Acho que você domina essa linguagem com muita naturalidade, sem o menor esforço. Parabéns!
Sou fã de camerinha.
Um abraço
Paulo Prestes Franco
Marcos, demorei muito mais do que deveria para ler seu texto. Fui lendo e me deparei com garglhadas no meio do texto, tentava continuar e não consegui... deve ser por me identificar com ele!! e conhecer muitas pessoas que se identificariam.. taí a beleza e a graça deste texto, quase um clown, rindo de si mesmo...
parabéns, belo texto. Vou usá-lo num teste na próxima segunda-feira. Espero me concentrar o bastante..
Paula.
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